Chamada para Artigos N.º 8: Enquadramentos da Expressão: Fotografia e Outras Artes
Prazo para envio dos artigos: 16 de Junho de 2025
Publicação: Dezembro de 2025
Editores deste número:
José Bértolo (Universidade Nova de Lisboa, Portugal)
José Luís Neves (Belfast Exposed Gallery, Reino Unido)
Desde os seus primórdios, a fotografia desenvolveu uma relação complexa com as outras artes, transitando entre a reprodução mecânica e a expressão artística. Essa dupla natureza levanta questões fundamentais: a fotografia pode ser reduzida a uma mera ferramenta para documentar a realidade, ou possui o potencial de transcender a representação e estabelecer-se como uma forma de arte plenamente expressiva? Ao longo da sua história, a fotografia tem estabelecido elos com outros meios de expressão — pintura, literatura, performance, entre outros —, produzindo diálogos ricos que não apenas moldam a sua identidade em constante evolução, mas também permitem desafiar e expandir os limites das práticas artísticas tradicionais.
Encontramos um exemplo claro destes processos no género do Pictorialismo, no qual fotógrafos do final do século XIX adoptaram técnicas pictóricas para criar imagens que emulavam as composições, os efeitos de foco suave e as atmosferas da pintura impressionista e simbolista. Figuras como Alfred Stieglitz e Julia Margaret Cameron realizaram experiências com processos fotográficos e lentes para evocar uma experiência estética semelhante à da pintura. Este desejo inicial de reconhecimento no âmbito das belas-artes mostra como a fotografia frequentemente procurou inspiração noutros media enquanto desenvolvia sua própria linguagem estética.
No século XX, artistas como Man Ray e Dora Maar procuraram ultrapassar os limites da fotografia ao inscreverem as suas obras no Surrealismo e no Dadaísmo. Estes artistas recorreram à colagem, à pintura e à experimentação em técnicas mistas para expandir a linguagem visual da fotografia. Outros fotógrafos aventuraram-se em campos criativos distintos que enriqueceram seu trabalho fotográfico. Robert Frank, por exemplo, não era apenas um fotógrafo inovador, mas também um cineasta influente; os seus documentários Pull My Daisy e o subversivo Cocksucker Blues demonstram como a sua abordagem crua e espontânea à fotografia se verteu perfeitamente para o cinema, onde ele pôde explorar também a narratividade e o movimento. Patti Smith, música e poeta, também cria trabalhos fotográficos notáveis; as suas imagens, frequentemente tiradas com uma câmara Polaroid vintage, reflectem uma sensibilidade poética, capturando cenas pessoais e íntimas que ressoam com temas da sua música e da sua escrita.
Fotógrafos modernos e contemporâneos continuam a inovar na fotografia ao moverem-se entre diferentes disciplinas artísticas. Luigi Ghirri, baseando-se na sua formação em arquitetura, usou o seu entendimento privilegiado de espaço e estrutura para criar fotografias que combinam paisagem, arquitectura e abstracção, explorando temas como a modernidade, a memória e a percepção. Eikoh Hosoe, por outro lado, integrou na fotografia a literatura, o teatro e a dança, produzindo composições sensuais e simbólicas influenciadas pelo folclore japonês e pela performance japonesa de vanguarda, particularmente nas suas colaborações com o dançarino de butô Tatsumi Hijikata e o escritor Yukio Mishima. Cindy Sherman utiliza o teatro e a performance no seu trabalho, encenando retratos cinematográficos de si mesma na pele de várias personagens para explorar a identidade e as normas sociais. Sophie Calle mistura fotografia com literatura e arte conceptual, incorporando frequentemente no seu trabalho narrativas escritas ou a documentação de experiências pessoais, e criando obras íntimas e orientadas por histórias que problematizam os limites entre autobiografia e arte.
Estas práticas interdisciplinares demonstram como a fotografia transcende o seu papel meramente representativo ao interagir com outras formas de arte. Ao convocar diversas tradições artísticas, a relação de continuidade entre a fotografia e as outras artes permite que ela ocupe um espaço dinâmico que desafia categorias fixas, enfatizando o seu papel tanto como documento quanto como forma de expressão.
Alguns dos tópicos que temos como objectivo explorar neste número:
- Intersecções históricas e estéticas entre fotografia e pintura, escultura ou literatura: A forma como a fotografia recorre a técnicas das artes tradicionais, como composição ou narrativa, e como influenciou ou foi influenciada pela pintura, pela escultura e pela literatura ao longo do tempo;
- Fotografia e artes performativas (p.ex., dança, teatro), e a criação de novas possibilidades expressivas: Como a fotografia interage com a dança, o teatro e outras artes performativas, tanto no registo de performances quanto na incorporação de elementos performativos no processo fotográfico;
- Fotografia como narrativa ou arte narrativa: Como os fotógrafos contam histórias ou criam narrativas, recorrendo às noções de sequenciamento, tema/assunto ou encenação para produzir significados que ultrapassam a mera documentação;
- Fotógrafos que praticam outras formas de arte: Como fotógrafos que também praticam outras formas de arte (p.ex., cinema, música, literatura) trazem influências interdisciplinares para o seu trabalho fotográfico, enriquecendo a sua profundidade visual e conceptual;
- Fotografia e arte digital: Como a intersecção da fotografia e da arte digital, através de ferramentas e técnicas digitais como a manipulação, a colagem e o 3D, expandiu as possibilidades da prática fotográfica e a sua relação com novos média.
Serão especialmente bem-vindas propostas que ofereçam perspectivas teóricas, leituras detalhadas de obras específicas ou estudos comparativos que explorem o lugar único da fotografia na intersecção entre documento e arte. As submissões podem examinar práticas históricas ou contemporâneas, mobilizar teoria crítica ou apresentar abordagens interdisciplinares.
Os artigos podem ser escritos em português, inglês, espanhol ou francês, e devem ter entre 6.000 e 8.000 palavras, incluindo notas, referências, um resumo de 150 a 250 palavras e 4 a 6 palavras-chave. Os autores devem seguir as normas de formatação indicadas em Instruções para os Autores. Os artigos devem fazer-se acompanhar de um segundo documento contendo uma breve nota biográfica do/a autor(a), de até 100 palavras, e referência ORCiD.
Submissão electrónica: para efectuar a inscrição e submeter o seu artigo a arbitragem científica, siga a hiperligação Nova Submissão na página de entrada da Compendium até 16 de Junho de 2025.